Plantar ou iniciar uma igreja?
Se você está planejando plantar uma igreja, este texto é para você. Se está em processo de plantação, este texto também é para você. E, se já plantou uma ou mais igrejas, também recomendo a leitura. Eu, particularmente, gostaria de ter lido isso antes de plantar a igreja a qual pastoreio.
Você, apaixonado pelo tema, deve ter lido inúmeros livros, assistido diversas palestras ou mesmo lido tantos artigos como este. Deve estar pensando: “o que mais posso acrescentar de conteúdo a respeito deste tema?”. Pois bem, recomendo que aperte o cinto e esteja preparado para ler algo contrário ao que, talvez, você aprendeu sobre plantação de igrejas.
Escrevo este breve texto fortemente influenciado pelo autor Peyton Jones que, em 2021, lançou o livro intitulado CHURCH PLANTOLOGY (Estudo sobre plantação de igrejas). Confesso que fiquei incomodado com as primeiras páginas do livro que me fizeram repensar a respeito do tema. Creio que você refletirá também. Até o presente momento, infelizmente, este livro não foi traduzido para o idioma português.
INICIANDO UMA IGREJA
Creio que o mundo corporativo tem muito a oferecer a nós, pastores e plantadores de igreja. Mas temo que parte desse conteúdo se sobreponha ao conteúdo bíblico. Temo que o pragmatismo influencie tanto, que o desejo de sucesso nos faça olhar mais para os empreendedores do que para os autores bíblicos. E um possível resultado disso é que talvez estejamos iniciando igrejas ao invés de estarmos plantando igrejas. Vamos refletir juntos.
Primeiramente, plantar igrejas não é um mandato bíblico direto. Jesus nunca disse que deveríamos plantar igrejas ao redor do mundo. Como você sabe, a orientação dEle foi sobre fazer discípulos que fazem discípulos: "Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações [...] ensinando-os a guardar todas as coisas que tenho ordenado a vocês...” (Mt 28.19,20). A sequência cronológica a esse fato está descrita em Atos dos Apóstolos. Nesse relato, vemos a descrição prática da resposta dos Apóstolos à Grande Comissão. Ou seja, vemos os apóstolos fazendo discípulos para Jesus ao compartilharem o Evangelho e discipularem os recém convertidos. Como resultado disso, vemos igrejas sendo plantadas.
Você é inteligente. Tenho certeza que já captou a ideia: a plantação de igrejas deve iniciar com o ato de fazer discípulos para Jesus; e uma igreja é plantada como resultado disso. O problema é que, muitas vezes, fazemos o oposto: iniciamos igrejas e, então, procuramos fazer discípulos.
Afinal de contas, o significa INICIAR uma igreja? Diferente de plantar, iniciamos uma igreja quando o objetivo fim é a própria existência da igreja. O foco está em alugar um espaço, comprar cadeiras e sistema de som, juntar um grupo de cristãos e iniciar um culto aos domingos.
Peyton Jones traz seis passos clássicos que caracterizam uma igreja que está iniciando (e não sendo plantada):
Levantar fundos (geralmente centenas de milhares de reais).
Recrutar pessoas em número suficiente para garantir uma massa (que possa pagar as contas do prédio).
Fazer reuniões para decidir o nome da igreja (marca é crucial).
Desenhar uma logomarca sexy (marca é tudo).
Alugar um prédio.
Anunciar, divulgar e promover nas mídias sociais e esperar que suficiente para encher o prédio no dia do lançamento.
De onde você acha que vem esse modelo de “plantação”? Definitivamente, não vemos nada parecido em Atos dos Apóstolos. Não há nem princípios bíblicos que norteiam essa filosofia de plantação. Esse modelo foi importado dos modelos de como iniciar um empreendimento. E o que norteia e justifica essa linha de raciocínio é o desejo de sucesso.
Mas, biblicamente falando, o que é sucesso? Se você entende que ter sucesso é preencher as cadeiras do prédio onde se reúnem, ter boas entradas financeiras mensais e possuir um prédio que coloca inveja em outros pastores, realmente você deve estar iniciando uma igreja. Mas, se for realmente honesto, verá que o sucesso bíblico é responder de forma prática à Grande Comissão: fazer discípulos que fazem discípulos.
Uma igreja que inicia, como dito anteriormente, tem o foco em si mesma e isso trará um custo (em todos os sentidos). O foco na sobrevivência (financeira), naturalmente, fará com que o “plantador" deixe de lado o ato de fazer discípulos, até porque esta é uma tarefa que demanda tempo e não costuma trazer resultados a curto prazo. Seu foco será na elaboração de um culto atracional maravilhoso que atrairá o maior número de pessoas possível.
Em uma cultura marcada pelo consumo, essa é a ferramenta ideal pra ter esse tipo de “sucesso”.
Definitivamente, precisamos de uma sincera auto-reflexão. Será que estamos iniciando igrejas? Será que, ao invés de investirmos tempo em oração, não gastamos tempo demais na criação de um nome cool? Será que, ao invés de espalharmos o Evangelho ao perdido, não optamos por desenhar uma logomarca sexy e uma conta atraente nas mídias sociais? Será que, ao invés de fazermos discípulos, não fizemos reuniões demais com o time de liderança? Por fim, será que, ao invés de adentrarmos na vida da cidade em busca do perdido, não estamos simplesmente reunindo um grupo de cristãos insatisfeitos com a igreja de onde saíram?
Nesses moldes, boa parte do que chamamos de plantação de igrejas, nada mais é do que lançamento de igrejas. A verdade é que não estamos plantando, estamos iniciando. Pois no fundo, não temos a fé necessária exigida pelo modelo bíblico. Com medo do fracasso, adaptamos modelos corporativos à realidade da igreja. Desejamos a segurança que o pragmatismo corporativo proporciona. Dependemos mais de estratégias de lançamento e habilidades de liderança do que do próprio Espírito Santo. E, se o mundo corporativo é nosso modelo, utilizamos também suas métricas. Com uma visão empresarial diremos que o sucesso significa: muita gente, muito dinheiro e um belo prédio. Seja sincero; é isso que você valoriza?
PLANTANDO UMA IGREJA
Diante disso, o que entendemos por PLANTAR igreja? Simplesmente olhando para a palavra e, considerando a metáfora, identificamos que plantar implica em semear e nutrir. O resultado será um fruto. Trazendo para o linguajar bíblico, devemos iniciar semeando o Evangelho ao perdido. À medida em que ele dá ouvidos, continuamos a nutri-lo com a Palavra de Deus para que amadureça. Esse novo discípulo entende que precisa replicar essa ação. À medida em que perdidos são alcançados, ali nasce o fruto; a saber, uma igreja.
Plantadores começam como Jesus e Paulo começaram: com os perdidos. Empreendedores começam recrutando cristãos insatisfeitos. Ainda que outros cristãos possam nos acompanhar na empreitada de semear o Evangelho ao perdido, esse deve ser nosso foco inicial.
Olhe para a estratégia de Paulo em Atos. Quando chegava a uma cidade, semeava o Evangelho em primeiro lugar. Aqueles que recebiam a Palavra de Deus eram então discipulados (nutridos). O resultado era a multiplicação de discípulos e a plantação de igrejas (fruto).
Refletindo sobre isso, começo a pensar que o fato de termos iniciado uma igreja com cristãos insatisfeitos pode ser a causa de termos uma igreja cheia de consumidores ao invés de cooperadores. Estamos tentando recrutar soldados para a guerra, mas o que vemos é uma multidão que caminha conosco enquanto nossos produtos e serviços lhes são interessantes. Atraímos consumidores e estamos tentando transformá-los em cooperadores. Só um milagre fará essa transformação. Será então, que o motivo dos baixos níveis de engajamento não é a forma como iniciamos nossas igrejas, atraindo e nutrindo consumidores ao invés de discípulos de Jesus que colaboram?
Agora, faça um exercício de imaginação. Imagine sua família investindo na vida de 2 ou 3 famílias conhecidas que não são cristãos. Você está sempre disposto a amá-los, ouvi-los e servi-los. À medida em que conquista a confiança destes, você compartilha sua história de transformação assim como a história sobre o plano redentivo de Deus na terra. Eles se entregam a Jesus e você tem a oportunidade de caminhar junto deles cooperando para que se tornem mais parecidos com Cristo. Não existe aluguel de prédio para pagar, não existe a necessidade de um time para fazer um espetáculo dominical; digo, culto. A igreja que está nascendo é composta por cerca de 10 pessoas e, certamente, todas vivendo em comunhão semanalmente. Mais do que isso, todos entenderam que foram convocados para colaborarem com a missão retentiva de Cristo na Terra. Esse é o sonho de todo pastor: ter 100% dos membros engajados na missão. E isso é possível!
Termino de forma abrupta, convidando você a refletir: você tem PLANTADO ou INICIADO uma igreja?